domingo, 7 de agosto de 2011

1º Festival Expresso Cultural em Sobradinho: mais um festival independente na região centro-serra

No dia em que o inverno resolveu lembrar a todos que julho ainda é um de seus meses, o frio, a garoa fina e o vento não impediram que o público permanecesse até à noite no Quiosque da Praça, no centro de Sobradinho, para apreciar a programação do 1º Festival Expresso Cultural. O projeto veio para se firmar como mais um festival independente da região, ao lado de iniciativas como o Festmalta, cuja sexta edição foi realizada em janeiro deste ano, em Ibarama, e o Pira Rural, realizado em meados de abril.

A atividade iniciou na tarde de domingo, 31 de julho, com a apresentação do Coletivo artístico cultural recém-nascido na cidade. Coletivo, inclusive, que ainda não foi batizado, embora algumas ideias tenham surgido depois de sugestões de nome terem sido requisitadas aos presentes. A ausência de um nome definitivo, contudo, não impediu que a primeira atividade realizada reunisse as pessoas durante uma tarde inteira de programação, agregando o público cativo do rock'n'roll sobradinhense a caras novas.

Apresentação da banda Segunda Face
Durante a tarde, também foi lançada a ideia de um livro que conte a história do rock em Sobradinho, reunindo informações sobre todas as bandas que já surgiram na cidade e região. O livro, a ser editado pela Fora do Eixo Letras (FEL), é uma das iniciativas do novo coletivo. A ideia é prestar tributo às pessoas que movimentaram e movimentam a cena musical local - desde os anos 70, já foram contabilizadas 37 bandas, e a contagem ainda pode crescer. O número é expressivo, e o resgate histórico é uma forma de registrar as iniciativas que, ao longo dos anos, abriram espaço em um terreno que poderia parecer infértil. Se hoje a valorização das iniciativas independentes tem cada vez mais respaldo, o levantamento histórico das bandas de Sobradinho nos impele a perceber que esse é um espírito mais do que presente na juventude local - especialmente considerando-se que estamos falando de uma cidade do Centro-Serra, interior gaúcho, com menos de vinte mil habitantes.

Feitas as apresentações, subiu ao palco a banda local Segunda Face, projeto surgido ainda este ano e focado nas canções autorais. O power trio composto pelo baterista Nilo, pelo baixista Christian e pelo vocalista e guitarrista Cássio, fez o primeiro dos três shows do dia. Com a proposta de "fazer rock clássico, barulhento e inconsequente", nas palavras do vocalista Cássio, a banda apresentou uma série de músicas próprias e covers de duas de suas principais referências, Ramones e Social Distortion.

Em seguida, a Companhia Teatro de Guerrilha, de Esteio, apresentou a esquete "A Psicóloga". O grupo integra o Coletivo Tomada, ligado ao circuito Fora do Eixo e que já havia estabelecido relação com o grupo sobradinhense no último Festlmalta e no Grito do Rock 2011, em Esteio.
Apresentação da Saturno de José, integrante do Coletivo do Tomada
Ao anoitecer, a segunda banda a subir ao palco foi Saturno de José, também de Esteio e integrante do Coletivo Tomada. Fruto de um projeto ousado de mais de 2 anos, a banda esteiense impressionou no palco, apresentando uma proposta musical experimentativa e de referências variadas. As composições agregaram à tradicional "cozinha" do rock instrumentos como bandolim, flauta transversa, harmônica e sintetizador, complementados por violão e percussão.

No intervalo entre as apresentações, o som mecânico rolava músicas de Rinoceronte, Pindorália, Pata de elefante, Geringonça, Vitroleiro Maluco, Pylla, Los Arcáides, entre outras - bandas independentes de todo o país, devidamente creditadas e apresentadas no microfone a quem estivesse interessado em conhecer. A proposta, segundo o vocalista da banda Superfusa e um dos organizadores do evento, Ediberto Patta, foi de apresentar coisas novas - todas as gravações são dos anos 2000  - e valorizar a produção independente nacional.

Superfusa, de Sobradinho
 
A terceira apresentação foi da banda de rock sobradinhense Superfusa, que integra o coletivo responsável pela organização do evento, ao lado do estúdio do guitarrista Jamil e outros colaboradores da cena artística local. No último show da noite, as pessoas que enfrentaram o frio e o vento à base de quentão presenciaram a execução enérgica do rock autoral da banda - acompanhada pelo público que se aproximou do palco - e dois covers, de Cascaveletes e Beatles. Em atividade desde 2009, o quarteto do vocalista e guitarrista Ediberto Patta, do baixista Johnny Moura, do guitarrista Caká Rathke e do baterista Daniel João está trabalhando em dois projetos - o single Alucinações e um EP - programados ainda para este ano.

O que se viu no palco daquele domingo traduz o intuito do coletivo ainda sem nome: a valorização da identidade e da história da cena local e o incentivo à renovação. A apresentação das duas bandas locais da cidade, Superfusa e Segunda Face, funcionou como uma metáfora da constante e necessária renovação da cena: enquanto os demais integrantes de ambas as bandas já possuem uma trajetória de anos na cena musical da cidade, Cacá, 18 anos, guitarrista da Superfusa, e Christian, 15 anos, baixista da Segunda Face, representam a nova geração que, como na letra de uma das músicas apresentadas, "está aí mostrando as caras". A novidade não existe sem a tradição, e esta, em Sobradinho, respirou novos ares na tarde de 31 de julho.

  

Texto e fotos: Tiago Miotto


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